Domingo, 10 Novembro 2013 14:33

Uma pessoa é morta pelas mãos da polícia a cada 48 horas no Paraná

Jessi e Antônio lutam para provar que o filho não atirou em policiais Jessi e Antônio lutam para provar que o filho não atirou em policiais

Brasil registra cinco mortes em confronto com a polícia por dia. Número é três vezes maior que nos Estados Unidos.

 

A cada dois dias, uma pessoa morreu em confronto com a polícia no Paraná em 2012.

 

No Brasil, são cinco mortes por dia, três vezes mais que nos Estados Unidos. Os números foram divulgados pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública e revelam a face mais violenta dos agentes de segurança pública. 

 

A chave para diminuir a violência policial passa por uma reformulação das estruturas de segurança pública e pelo avanço da transparência, segundo especialistas ouvidos pela reportagem. “Os números são muito preocupantes e revelam um desvio no preparo das tropas. Esses dados devem chamar atenção dos órgãos de segurança pública para uma revisão imediata da formação dos soldados e uma revisão da finalidade para qual a Polícia Militar está voltada”, afirmou o presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB-PR, José Carlos Cal Garcia Filho.

 

Era a Polícia Militar que estava presente na grande maioria das 167 mortes em confronto com a polícia. Houve um aumento de 12% no número de casos entre 2011 e 2012. Comparando com a quantidade de homicídios registrados no Paraná, é possível dizer que a cada vinte pessoas que foram assassinadas no estado, uma foi morta pela polícia.

 

“É preciso repensar a polícia. Ela é atualmente incompatível com a sociedade democrática”, ressalta o sociólogo da PUCPR, Cézar Bueno. Segundo ele, a formação do policial, aliada a cultura criada dentro das corporações militares, coloca o suspeito como um inimigo, tal qual em uma guerra. “A polícia precisa estar preparada para prevenção, na resolução sem violência. Aliás, o uso da violência deve ser a última alternativa”, pondera. Bueno duvida que em todas as situações foi necessário o uso da “bala”.

 

 

Clima de guerra

 

Bueno lembra que os casos de morte em confronto tendem a ficar sem solução. “A questão corporativa protege os policiais. Falta transparência. É preciso democratizar as polícias”, defende. O sociólogo ressalta que a impunidade gera um ciclo perverso. “Polícia violenta traz insegurança e não segurança”, analisa. Garcia Filho também lembra que a falta de transparência colabora para o desconhecimento das causas dessa violência policial. “Política de segurança pública não pode se confundir com violência estatal”, observa.

 

Para o coronel da reserva da PM do Paraná, Renato Jorge da Silveira, o aumento da violência por parte dos criminosos gerou uma polícia mais firme e preparada para revidar. “Há 20 anos tínhamos mais respeito. Os suspeitos se entregavam”, conta. Ele acredita também que os ataques de uma facção criminosa em São Paulo em 2006 propagaram a coragem entres os bandidos pelo país. “Em alguns lugares, eles conseguiram até estar mais aparelhados que a própria polícia”, afirma. Na avaliação dele, o medo de morrer é outro fator que colabora para o revide policial.

 

 

Pais contratam perícia para provar que cena da morte do filho foi forjada

 

Inconformados com a versão de que o filho teria reagido a uma abordagem, os pais do advogado curitibano Cléber Guiomar Pinto contrataram um perito para provar que a cena da morte foi montada. “A perícia apontou todos os erros. Consta no laudo que meu filho foi morto de joelhos. A bala entrou no peito e se alojou na lombar. Ele é canhoto, mas a arma estava próxima da mão direita dele. O que aconteceu é uma vergonha, uma covardia”, afirma Antônio Milton Pinto.

 

Os pais alegam que Cléber, de 24 anos, foi executado pela Polícia Militar, em Guaraniaçu, Oeste do Paraná, em janeiro deste ano. Na época, foi noticiado que policiais militares do serviço reservado trocaram tiros com dois homens às margens da BR-277. Cléber estaria acompanhando o primo Ademilson de Lima Damásio, 23 anos, numa ida ao fórum da cidade. Os relatos policiais dão conta de que eles teriam atirado ao serem abordados em um carro Golf. Um revólver e uma pistola estariam com os rapazes. Ademilson tinha passagem pela polícia.

 

A Gazeta do Povo obteve os pareceres da delegacia de Guaraniaçu e da Polícia Militar, que pedem que os dois policiais suspeitos (um deles já faleceu) não sejam indiciados. “Todas as provas produzidas nestes autos (...) dão conta da existência de um confronto armado não provocado pelos policiais”, afirma o texto do relatório da Polícia Civil sobre o caso.

 

Com base nas informações apresentadas pela perícia contratada pela família, a promotoria de Guaraniaçu reabriu o inquérito, pedindo novas diligências. Depois de ser entrevistado em um programa de televisão sobre o caso, segundo Milton, um dos policiais abordou a esposa dele. “Ele disse para ela que eu gostava muito de dar entrevista e que seria a última”, conta. 

 

 

 

 

 

Por Diego Ribeiro (Gazeta do Povo)

 

 

 

Veja também:

Entre para postar comentários