Sexta, 10 Julho 2015 20:37

Chuva de até 400 mm pode causar deslizamentos e enchentes no Paraná

Santa Catarina também sofre com chuvas Santa Catarina também sofre com chuvas

A persistência e até intensificação do fenômeno El Niño no Oceano Pacífico Ocidental já provoca reflexos na América do Sul, com a persistência da chuva, principalmente no Sul do Brasil, garantem meteorologistas dos órgãos oficiais.

 

Já foram três eventos de chuva volumosa nos últimos dois meses e que impactaram a população do Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina.

 

O último evento, na semana passada, despejou mais de 200 milímetros entre o noroeste e norte do Paraná, onde rios transbordaram e cidades ficaram alagadas.

 

Ainda que prematuro ditar a intensidade do fenômeno nos próximos meses, seus efeitos no Brasil são exatamente o aumento da frequência e volume de chuva na Região Sul agora e um decréscimo da precipitação no interior da Região Nordeste a partir a primavera. A chuva também diminui bastante na Amazônia e em boa parte do Centro-Oeste, o que colabora para o aumento do número de focos de queimadas e picos de calor, ou das temperaturas acima da média que se tornam mais frequentes, também a partir de setembro, na Região Sudeste.

 

Em publicação das últimas 24 horas, o Climate.gov, ligado ao National Oceanic and Atmospheric Administration (NOAA), adiantou que a anomalia de temperatura de até 1,5°C observada na região do Oceano Pacífico - que concentra a medição do Oceanic Niño Index (ONI) 3.4 e que mede a temperatura da superfície do mesmo - que esse valor deve ser levado em consideração, pois assemelha-se ao evento maior de Niño de que se tem registro com a maior quantidade de impacto ao longo do planeta verificado em 1997.

 

Ao longo da altura do Equador existem quatro pontos de medição da temperatura da superfície do mesmo oceano e que termina o valor de ONI, dentre tantos outros parâmetros, para diagnosticar a fase de um evento de El Niño ou La Niña.

 

Com base no banco de dados de monitoramento desde 1950, apenas na região central de monitoramento, portanto, de Niño 3.4, entre os meses de abril e junho, notou-se uma semelhança com eventos anteriores, tais como 1992, 1983 e 1987 ficando o ano de 2015 em quatro lugar.

 

Esse comportamento oceânico mexe com o padrão de circulação dos ventos na coluna troposférica, assim como redireciona a Corrente de Jato Subtropical (CJS), máximo de vento localizado em torno de 11 mil metros de altitude e que acaba mantendo os sistemas transientes retidos em latitudes maiores, no caso, a Região Sul.

 

Muito comum fica a propagação de áreas alongadas de baixa pressão atmosférica – cavados – em níveis médios e altos, bem como a formação de vórtices ciclônicos, que possuem caráter de gerar muita instabilidade na região.

 

As simulações computadorizadas utilizadas pelos centros de meteorologia começam a sofrer ajustes conforme a data de retorno da chuva se aproxima, esperada entre esta sexta dia 10 e este sábado dia 11.

 

A projeção do modelo norte-americano GFS, que é rodado pelo National Centers for Environmental Prediction (NCEP), indica taxa de precipitação acumulada ao longo das próximas 168 horas, superior a 135 milímetros entre o oeste de Santa Catarina e grande parte do estado do Paraná, mas principalmente sobre municípios das porções centro, noroeste, oeste e sudoeste.

 

Outro campo de visão do mesmo modelo chegou a indicar até 300 mm de chuva sobre as microrregiões de Assis Chateaubriand, Campo Mourão e Cascavel, sendo esse montante somente em quatro dias, entre sábado e terça dia 14.

 

 

Já a visão do modelo brasileiro COSMO, rodado pelo Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), mostrou a taxa de chuva, também para o período de 168 horas, deslocada mais ao sul, o que impactaria o centro, nordeste e norte do Rio Grande do Sul e o meio-oeste e sul de Santa Catarina, além de extremos entre 300 e 400 mm, também em no máximo 96 horas, sobre a metade nordeste gaúcha, o que compreende partes dos Vales do Caí, Paranhana, Taquari e Sinos, além da Região Metropolitana de Porto Alegre. A chuva também cairia de forma volumosa no sul do Paraná.

 

 

Outros modelos tais como o europeu ECMWF, ETA e WRF, também concordam em volumes maiores de chuva sobre o Sul do país, mas em regiões mais distintas. De modo geral, o foco de chuva ficaria concentrado entre a metade norte paranaense e a metade norte gaúcha, com Santa Catarina no meio do jogo.

 

Em face do nível acima da média e até mesmo da cota de alerta, com permanência de 5%, agora observado em diversos rios, principalmente do Paraná e de Santa Catarina, que subiram com as últimas chuvas, a vulnerabilidade para uma elevação ainda maior caso a previsão de muita chuva se concretize, levaria a uma série de transtornos à população, tais como alagamentos, enchentes, inundações, deslizamentos, desabamentos e isolamentos de rodovias e até mesmo cidades.

 

Embora o período de chuva seja considerado pequeno, de no máximo quatro dias, o relevo e, dependendo o volume observado, gera um motivo a mais para que as autoridades, principalmente as Defesas Civis, redobrem a atenção, em áreas com históricos de danos naturais relacionados com deslizamentos de terra ou enchentes.

 

Um estudo realizado pelo Sistema Nacional de Informações sobre Recursos Hídricos (SNIRH) mostra que a vulnerabilidade de inundação é evidente em grande parte da Região Sul, em situações de chuvas volumosas, com maiores impactos em cursos d'água nas bacias dos rios das Cinzas, Iguaçu, Ivaí, Jaguariaíva, Marmeleiro, Marrecas, Pitanga, Ribeira do Iguape, Santo Antônio, Tibagi e Xambrê, no Paraná;

 

Itajaí-Açu, Itajaí do Oeste, Itajaí do Sul, Itajaí-Mirim, Itapocu, Itaputã, Negro, Peixe, Pitanga, Timbó, Tubarão, Uruguai e Vermelho, em Santa Catarina;

 

E Caí, Fão, Forquilha, Ijuí, Jacuí, Mel, Paranhana, Rolante, Santa Maria, Sinos, Taquari e Uruguai, no Rio Grande do Sul.

 

 

Os órgãos regionais de meteorologia, tais como Centro de Informações de Recursos Ambientais e de Hidrometeorologia de Santa Catarina (Epagri/Ciram) e Sistema Meteorológico do Paraná (Simepar), já estudam a possibilidade de volumes elevados de chuva e por isso as Defesas Civis já estão sendo alertadas quanto a resolução das simulações numéricas e seus ajustes.

 

"A partir de sexta-feira, inicia-se um período de atenção no Paraná em relação ao volume de chuva: conforme as projeções atmosféricas, deve chover muito no Estado a partir do fim de semana. Serão pelo menos quatro dias de muita chuva. Os prognósticos sugerem um acumulado superior a 300 milímetros entre sábado e terça-feira em algumas regiões paranaenses", ressaltou a meteorologista do Simepar, Sheila Radmann da Paz Rivas.

 

A mesma enfatizou o volume de chuva observado nos sete primeiros dias de julho sobre os principais municípios do Paraná, que, sem exceção, tiveram precipitação superior à média climatológica (1961-1990) esperada para todo o mês, com destaque para o município de Cianorte, que acumulou 259,8 mm. (Com De Olho no Tempo)

 

 

 

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