Quarta, 16 Agosto 2017 08:37

O HIV pode estar no próximo ‘match’

Até há pouco tempo sexo era um problema para os tímidos. Afinal de contas, antes dele, havia uma série de etapas que exigiam bom uso da comunicação (seja através das palavras, olhares ou gestos).

 

Com a chegada dos aplicativos as coisas ficaram mais fáceis. Existem desde os mais populares como o Tinder (um aplicativo de encontros) até os mais objetivos como o Down Dating (que serve para localizar quem está perto de você e disposto a transar).

 

No Tinder, por exemplo, antes de dar um “like” ou um “nope” a um sujeito, você pode ver fotos, idade, interesses.  Se você gostou do ser humano e o ser humano gostou de você (o tão famoso “match”), vocês podem conversar e a partir daí é com vocês.

 

Ocorre que “fotos, idade, interesses”, não são informações suficientes para garantir um sexo seguro. Na verdade, verdade mesmo, sexo seguro se garante é com camisinha. O problema é que nem todo mundo vê a vida como ela realmente é.

 

“As pessoas acham que quem é bonito, rico e cheiroso não têm HIV”, destacou a coordenadora do Cedip, Josana Dranka Horvath. De acordo com o Josana, o número de casos de jovens com o vírus HIV só cresce. “A gente observa um aumento de casos entre jovens de 19 a 25 anos. Tanto em casos de HIV como de DST’S (Doenças Sexualmente Transmissíveis)”, afirmou.

 

O Cedip acompanha atualmente 2.756 pacientes HIV/Aids de Cascavel e 10ª Regional de Saúde. Os casos de HIV começaram a ser notificados oficialmente em 2011, até então só eram notificado os casos de Aids, que é quando a pessoa já tem sintomas relacionados a imunodepressão causada pelo vírus HIV. De acordo com dados repassados pelo Cedip, de 1986 a 1996 foram notificados em Cascavel 62 casos de Aids. Já de 1997 a 2006 foram notificados 479 caso. Por fim, de 2007 a 2016 foram notificados em Cascavel 643 casos.

 

“Enquanto no Brasil se registrou uma média de 19,1 casos de Aids para cada 100 mil habitantes nos últimos 3 anos, Cascavel registrou 28”, destacou Josana.

 

No Brasil, dados do Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais, do Ministério da Saúde, apontam que a taxa de infectados cresceu assustadoramente entre 2006 e 2015 nas faixas de 15 e 19 anos (variação de 187,5%, com a taxa passando de 2,4 para cada 100 mil habitantes para 6,9) e de 20 a 24 (alta de 108%, passando de 15,9 para 33,1 infectados). Entre 25 a 29 anos, foi de 21%, com a taxa migrando de 40,9 para 49,5%.

 

Preconceito

 

E isso tudo é culpa dos aplicativos de encontro? Jamais! O problema está no preconceito. Preconceito que faz com que muitas pessoas acreditem que HIV e doenças sexualmente transmissíveis tem cara, escolaridade ou classe social. Preconceito que faz com que as pessoas acreditem: “Não vai acontecer comigo”. Como se algum ser humano nesta terra estivesse acima deste vírus.

 

“Toda a pessoa deveria fazer o teste de HIV, porque toda a pessoa, em algum momento da vida, correu o risco. Ao nascer corremos o risco!”, destacou Lourdes Cotienschi, uma das fundadoras do grupo, de apoio a pessoas com HIV, Vida e Atitude. Josana tem a mesma percepção durante seu trabalho no Cedip.

 

“O que vejo é que o que mais influencia é a ideia de que “não vai acontecer comigo”. A nível nacional se fala pouco sobre a doença na televisão. Se a notícia de que existem pessoas morrendo de gripe, por exemplo, é frequente, as pessoas se preocupam com a prevenção. Na medida em que deixa-se de falar sobre o assunto, os cuidados também são deixados de lado. Por fim, o preconceito termina de esmagar”, disse.

 

“É visível o aumento de jovens com HIV e Aids. De 2008 pra cá, até 2015, foi muito grande o número de infecções no Brasil e em Cascavel não é diferente. Eles acreditam que não vai acontecer com eles, notamos isso quando começamos a falar para jovens sobre o tema. Mas é real! São muitos, muitos jovens infectados”, afirmou Lourdes.

 

Vida após o HIV

 

“As pessoas têm medo, isso é visível. Elas falam: “não vou fazer o teste, e se der positivo?”. Então orientamos, que se o teste der positivo, a pessoa vai se cuidar e se der negativo, vai se cuidar também, para garantir que não vai passar por esta situação novamente. Se não fizer o teste e adoecer, as coisas ficam difíceis”, explicou Lourdes, que também atua como tutora da rede de jovens jovens, que existe dentro do projeto Vida e Atitude. “Nosso grupo tem como objetivo a troca de experiências e acolhimento destas pessoas”, explicou.

 

Ela conta que acolher jovens com diagnóstico positivo é um desafio muito grande. “Ela não dão conta. Alguns, em um primeiro momento acham que está tudo bem. Passam alguns meses, chega a medicação, a necessidade de contar para a família e então eles entram em depressão. Outros já entram em desespero com a chegada do diagnóstico. Acham que não têm mais expectativa de vida”, contou Lourdes que é prova viva de que a vida continua após o HIV.

 

“Eu tenho uma caminhada de 14 anos. Era dona de casa, mão de dois filhos, não trabalhava fora. Depois do diagnóstico comecei a trabalhar, passei em concurso público. Existe vida! Se eles pararem suas vidas, vão morrer mesmo. De HIV a gente não morre, se morrermos, vamos morrer por outras doenças, inclusive por depressão. Tentamos mostrar isso pra eles. Eles não podem deixar seus planos morrerem. Se estavam estudando, agora têm um motivo a mais para se dedicar aos estudos”, exclamou. (Com Gazeta do Paraná)

 

 

 

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