A contabilista Camila Marinho, 26, que mora e trabalha em São Paulo, é adepta do almoço de dez minutos, muitas vezes ingerido na mesa de trabalho. "Posso até perder chances de estreitar relacionamentos, o que tento compensar na hora do café, mas economizo tempo, sobretudo quando tenho prazos mais apertados."
O problema é quando as demandas consideradas urgentes prendem o profissional no escritório todos os dias, aponta Guy Cliquet, doutor em comportamento organizacional, do Insper.
"Se sempre há algo inadiável, é sinal que a área ou até a pessoa não consegue se organizar direito, e a maioria muda apenas quando tem um prejuízo de saúde", diz.
O intervalo na rotina de trabalho é vital. Entre os problemas que podem surgir em consequência desse pouco caso com a hora do almoço estão a queda na produtividade, na concentração e na criatividade e, em casos extremos, estafa grave, afirma o médico e doutor em psiquiatria Mario Louzã.
Algumas empresas já estipulam almoços longos, de uma hora e 15 minutos, o que também serve como estratégia para manter os funcionários satisfeitos, diz Leonardo Berto, especialista em RH da consultoria Robert Half.
Mesmo mais longa, a pausa não pode ser usada para responder e-mails ou mensagens de trabalho, um erro comum entre os profissionais. É preciso interagir com os colegas e arejar a mente, afirma a especialista em gestão de pessoas e professora da FGV (Fundação Getulio Vargas) Anna Cherubina.
"Quem só descansa quando chega em casa não vai conseguir desempenhar bem suas funções no médio e longo prazo", reforça Louzã.
PARADA ESTRATÉGICA
A administradora Victória Menon, 25, acha que comete mais erros e fica dispersa se não consegue sair para almoçar com calma, o que tenta fazer todos os dias. Ela procura cumprir uma dieta controlada, para ganhar peso.
"Gosto de comer com os colegas e falar de faculdade, namorado, qualquer coisa que não seja trabalho. Conheci muita gente assim e fiz alguns amigos." Na consultoria Crowe Horwath, onde trabalha, a pausa dura 1h15.
Para Berto, da Robert Half, não é preciso comer fora todos os dias, mas buscar no cotidiano formas de interromper a rotina do trabalho.
A analista de planejamento da Tokio Marine Luana Feliciano, 30, aderiu à marmita saudável e come no refeitório da empresa. O tempo que sobra é aproveitado em caminhadas após a refeição.
"Levo um tênis na mochila e sinto que fico mais calma durante a tarde", diz. A ideia surgiu com um programa da empresa, que estimula alimentação saudável e prática de exercícios, do qual Luana participou.
O horário de almoço na empresa também é um pouco mais longo, com 1h15.
Não adianta só parar de trabalhar: é preciso escolher alimentos de boa qualidade nutricional, seja na marmita ou no self-service, diz a médica endocrinologista Erika Parente, professora da Santa Casa.
Parente ressalta a importância de equilibrar carboidratos, proteínas magras e gorduras boas, como o azeite, que dão energia sem pesar no estômago durante a tarde. São diretrizes básicas, mas que muitas vezes são trocadas por lanches rápidos em redes de fast food.
Quando a oferta de alimentos é grande, como nos restaurantes por quilo, vale seguir as regras da boa mesa e se servir primeiro da salada e depois dos pratos quentes, explica Maria Aparecida Araújo, especialista em etiqueta corporativa. "É mais educado, e a pessoa reflete melhor sobre o que deve comer", diz.
No Brasil, os restaurantes por quilo são os favoritos: segundo a pesquisa, 23% das pessoas comem em locais do tipo cinco vezes por semana. (Com FolhaPress)