Segunda, 12 Junho 2017 10:09

PF acha com amigo de Temer papéis rasgados sobre reforma de casa

A Polícia Federal encontrou documentos rasgados, com informações sobre a reforma da casa de uma filha do presidente Michel Temer, na operação de busca e apreensão que fez no apartamento do coronel da Polícia Militar João Baptista Lima Filho.

 

Ele é um dos mais antigos e fiéis aliados do presidente, suspeito de ser laranja de Temer. Um dos delatores da JBS, Ricardo Saud, diz ter mandado entregar R$ 1 milhão para Lima Filho dos R$ 15 milhões que o grupo doara para o caixa dois de Temer em 2014.

 

Os rasgos nos papéis, feitos nos sentidos horizontal e vertical da folha, aparentemente com uma régua, sugerem que alguém queria destruir a documentação, na interpretação dos investigadores que participaram da operação de busca.

 

O conjunto de papéis rasgados tinha pouco mais de duas dezenas de páginas. Os policiais tiveram que montar as folhas rasgadas para ler o conteúdo dos documentos.

 

DESPESAS DE TEMER

 

Destruição de provas é considerada um crime grave pela Justiça. É uma das justificativas previstas para a decretação de prisão. Foi com esse argumento, por exemplo, que a Justiça mandou prender outro aliado de Temer, o ex-ministro Henrique Eduardo Alves, na terça (6).

 

A Procuradoria-Geral da República, segundo a Folha apurou, não pediu a prisão de Lima Filho neste primeiro momento por razões estratégicas.

 

A PF também encontrou documentos que apontam que o coronel aposentado controlava ou pagava despesas de Temer. Um dos papéis apreendidos é a nota de um aparelho de telefonia comprado para Temer em 1998.

 

Os papéis rasgados estavam sobre uma mesa de trabalho para serem descartados, de acordo com investigadores. Lima estava na sala quando os documentos foram achados e mostrou um ar de irritação e contrariedade durante a ação, relatam policiais.

 

Além de mensagens sobre a reforma da casa de uma das filhas de Temer, o pacote continha folhas com o que parecia ser a contabilidade pessoal do amigo do presidente.

 

A busca no apartamento do coronel Lima, no bairro do Morumbi em São Paulo, ocorreu na manhã do dia 18 de maio, como parte da Operação Patmos, que também prendeu Andrea Neves, irmã do senador afastado Aécio Neves (PSDB-MG).

 

A operação ocorreu um dia depois de o jornal "O Globo" ter noticiado que o empresário Joesley Batista, da JBS, havia gravado conversas com o presidente. Para a Procuradoria, o diálogo mostra que o peemedebista dá aval à compra do silêncio do ex-deputado Eduardo Cunha, entre outros possíveis crimes.

 

Os documentos rasgados encontrados na casa do amigo de Temer estão sob sigilo, mas outra parte dessa papelada já se tornou pública. Foram os documentos apreendidos no mesmo dia, em busca realizada no escritório de uma empresa do coronel, a Argeplan Arquitetura e Engenharia, na Vila Madalena.

 

Lá, a Polícia Federal encontrou papéis mostrando que a empresa do coronel fez um orçamento para reformar um apartamento de Maristela Temer, filha do presidente, no Alto de Pinheiros.

 

Há uma série de versões sobre a justificativa para a reforma. Inicialmente, o presidente disse que o coronel não participara da obra. Fornecedores refutaram essa versão, ao contar que o amigo de Temer tinha feito encomendas para a reforma e fiscalizou a obra entre 2014 e 2015. O próprio presidente esteve lá com o amigo, de acordo com reportagem do jornal "O Globo".

 

Posteriormente, o Planalto reconheceu que o coronel atuara na reforma e que a obra fora visitada por Temer quando ele era vice da presidente Dilma Rousseff.

 

CITADO POR DELATOR

 

Amigo de Temer desde que ele foi secretário de Segurança Pública em São Paulo, entre 1984 e 1986, o coronel é dono da Argeplan, empresa que tornou-se sócia do grupo finlandês AF Consult para construir a usina de Angra 3. O valor do negócio é de R$ 162,2 milhões.

 

O grupo finlandês era obrigado por edital a contratar empresas nacionais. Outra contratada, a Engevix, teve diretores condenados na Lava Jato por pagamento de propina.

 

Numa tentativa de fechar acordo de delação em 2016, o dono da Engevix, José Antunes Sobrinho, relatou ter dado R$ 1 milhão para a campanha de 2014 de Temer como retribuição pelo contrato com o grupo finlandês. A delação de Antunes foi recusada pelos procuradores por motivos não declarados.

 

Nas próximas semanas, a Procuradoria deve apresentar denúncia contra Temer com base na delação da JBS.

 

OUTRO LADO

 

A Folha procurou o coronel reformado João Baptista Lima Filho na Argeplan e na sua casa, enviou e-mail para sua secretária detalhando as dúvidas da reportagem sobre os documentos rasgados, mas não houve resposta.

 

A assessoria de Michel Temer também não quis comentar as menções à filha do presidente que aparecem em documentos rasgados.

 

O advogado Antonio Claudio Mariz de Oliveira, que defende Temer no inquérito que está no Supremo Tribunal Federal, não foi encontrado.

 

Em outras ocasiões, o presidente negou que o coronel seja seu laranja e refutou que tenha recebido recursos ilícitos da JBS em 2014. (Com UOL)

 

 

 

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    A notícia foi divulgada pela jornalista Andréia Sadi, da GloboNews.

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