Segundo a defesa do ex-presidente, a ex-primeira-dama Marisa Letícia adquiriu, em 2005, uma cota da Bancoop para o apartamento 141, unidade padrão com 82,5 m². Em 2009, a cooperativa passou por problemas financeiros e a OAS incorporou o empreendimento, cujo nome mudou de edifício Mar Cantábrico para Solaris.
Naquele ano, a mulher de Lula teria desistido do imóvel que foi vendido pela empreiteira.
Nesta quarta-feira, Lula diz que foi convidado por Léo Pinheiro, presidente da OAS, visitar outra unidade disponível no edifício em 2014.
"O Léo esteve lá no escritório [Instituto Lula] dizendo que o apartamento tinha sido vendido e que ele tinha mais um apartamento, dos normais, e o tríplex e eu fui lá ver o apartamento". O imóvel, de número 164-A, tinha 215 metros de área privativa.
A versão de Lula contraria o depoimento de Léo Pinheiro a Moro. O empresário afirmou que o tríplex pertencia a Lula --apesar de, no papel, ser de propriedade da empreiteira.
Defeitos em série
Moro pergunta quais foram as circunstâncias em que Lula esteve no tríplex, em 2014. Ele confirma que visitou o apartamento acompanhado da mulher e de Léo Pinheiro.
"O Léo esteve lá no escritório dizendo que o apartamento tinha sido vendido e que ele tinha mais um apartamento, dos normais, e o tríplex e eu fui lá ver o apartamento. Coloquei 500 defeitos no apartamento, voltei e nunca mais conversei com o Léo sobre o apartamento.
O juiz federal também questiona o que discutiu com Pinheiro naquela ocasião.
"O conteúdo da conversa é que o Léo tava querendo vender o apartamento [para mim]. E o senhor sabe que como qualquer vendedor, ele queria vender o apartamento de qualquer jeito."
Lula também nega pedido para fazer uma série de reparos no tríplex. "Eu não orientei [para fazer reformas].
O que eu sei que o dia que eu fui é que houve muitos defeitos mostrados no prédio. Defeitos na escada, defeitos de cozinha", detalhou.
Praia famosa
Ao ser questionado porque desistiu de comprar o apartamento, Lula alegou que seria impraticável viver em um local com tanta visibilidade.
"Eu me dei conta que eu não poderia ter uma apartamento na Praia da Astúrias. Eu percebi que aquele apartamento era praticamente inutilizável por mim pelo fato de eu ser uma figura pública e eu só poderia ir naquela praia ou na segunda-feira ou na Quarta-feira de Cinzas."
Apartamento pequeno
O ex-presidente também argumentou que o imóvel não poderia comportar toda os membros de sua família. "O apartamento era muito pequeno para uma família de cinco filhos, oito netos e agora uma bisneta".
"Dona Marisa nunca gostou de praia"
"Dona Marisa não gostava de praia", diz Lula, complementando que "certamente ela queria para fazer investimento."
Ao ser perguntado por Moro se o casal avisou que não ficaria com o apartamento, o ex-presidente disse que não avisou. "Eu não ia ficar com o apartamento, mas Dona Marisa ainda tinha dúvidas se valia o investimento."
Construção de elevador
Moro pergunta também a Lula sobre a construção de um elevador privativo no tríplex feita a pedido da família de Lula, segundo Léo Pinheiro.
O ex-presidente afirma que o episódio "é uma das anomalias da denúncia do Ministério Público".
Ele alega que mora, há 18 anos, em um apartamento com uma escada caracol de 16 degraus.
"A dona Marisa, há exatamente seis anos, tomava remédio todo santo dia para dor na cartilagem. Será que alguém de bom senso nesse país imagina que eu ia pedir um elevador no apartamento que não era meu, e deixar de pedir para fazer no prédio que a dona Marisa morava há 20 anos?".
Como foi o depoimento
Iniciada por volta das 14h18 desta quarta dia 10, a audiência durou cinco horas e foi o segundo maior depoimento da Lava Jato em Curitiba.
O depoimento do ex-presidente acontece dentro do processo em que Lula é acusado de ter recebido, em 2009, propina da empreiteira OAS por meio da reserva e reforma de um tríplex no edifício Solaris, no Guarujá, município do litoral de São Paulo.
Lula também responde pelo armazenamento de bens depois que ele deixou a Presidência, entre 2011 e 2016. Lula governou o Brasil por dois mandatos seguidos, entre 2003 e 2010.
O valor total da vantagem indevida seria de R$ 3,7 milhões, como contrapartida por três contratos entre a empreiteira OAS e a Petrobras, segundo o MPF (Ministério Público Federal).
Os crimes
Segundo a denúncia dos procuradores da força-tarefa da Lava Jato, o ex-presidente da República teria cometido os crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro, de acordo com a.
Foi nessa ocasião, inclusive, que os membros do MPF usaram aquela que ficou conhecida como a polêmica apresentação em Power-Point para apresentar as acusações contra o petista.
Em 20 de setembro do ano passado, Moro acolheu a denúncia do MPF e Lula tornou-se réu no processo. (Com UOL)