Sexta, 08 Janeiro 2016 16:46

Médicos investigam lesões oculares em recém-nascidos por causa da zika

Pesquisadores em Pernambuco e São Paulo investigam a ocorrência de lesões na retina e no nervo óptico, que podem causar perda de visão, em bebês com microcefalia associada ao zika vírus.

 

Em texto divulgado na revista científica The Lancet na noite de quinta dia 07, cientistas da Fundação Altino Ventura, do Hospital dos Olhos de Pernambuco (HOPE) e da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) descrevem uma associação entre a infecção de mulheres grávidas pelo vírus e a descoberta das lesões nos recém-nascidos.

 

Segundo dados do Ministério da Saúde, o Brasil tem 3.174 casos suspeitos da má-formação registrados até o dia 2 de janeiro, em 21 Estados.

 

Assim como outras viroses e infecções bacterianas – como a rubéola, a toxoplasmose e a sífilis –, o vírus da zika, quando contraído nos primeiros meses da gravidez, pode causar diversos tipos de lesões cerebrais no bebê, além da microcefalia.

 

Esta, no entanto, é a primeira vez em que lesões oculares associadas à zika são descritas em recém-nascidos, de acordo com o oftalmologista Rubens Belfort Junior, professor da Escola Paulista de Medicina, da Unifesp.

 

"Fazendo exames, vemos que o aspecto dessas lesões é diferente das que são causadas por outras infecções", disse Belfort à BBC Brasil.

 

"Mas também estamos examinando as mães para ter certeza de que elas não tinham alguma deficiência visual que o bebê pudesse ter herdado."

 

A ocorrência das lesões oculares é a primeira descoberta documentada após os mutirões de exames realizados em Recife e em Salvador – duas das cidades com maior número de casos de microcefalia.

 

"Queremos produzir mais informações sobre a doença e orientar os pacientes. O impacto econômico e psicológico dessa epidemia é devastador."

 

 

Ajuda no diagnóstico

 

O trabalho descreve os casos de três bebês com microcefalia examinados pela equipe.

 

Nos três foram encontrados problemas como o distúrbio pigmental da retina (parte do olho responsável pela formação de imagens) e diferentes graus de atrofia da retina, da coroide (estrutura que absorve a luz) e do nervo óptico, que, segundo Belfort, podem causar perda total ou diminuição da visão.

 

"Quando enviamos este texto para a revista, estávamos começando a examinar os pacientes. Agora, já temos cerca de 100 crianças e 100 mães examinadas em Pernambuco e na Bahia, com resultados semelhantes", diz o pesquisador.

 

Para Belfort, os exames também podem revelar se o zika vírus estaria causando problemas visuais mesmo em bebês que não tiveram a microcefalia.

 

"Já temos algumas crianças que não tem microcefalia, mas têm lesões na retina e no sistema nervoso central. Isso tornaria o problema maior e mais grave", afirma.

 

O caso brasileiro é o primeiro no mundo que associa o vírus à ocorrência de microcefalia em bebês. Por isso, casos como estes ainda não estão presentes na literatura científica sobre a doença e suas consequências.

 

Além disso, a dificuldade em diagnosticar a zika depois que a pessoa teve a doença torna difícil saber se todos os casos notificados de microcefalia estão realmente associados ao vírus. Por essa razão, os autores da pesquisa acreditam que o exame nos olhos dos bebês pode ajudar.

 

"Em todo o mundo, o diagnóstico da zika é quase sempre feito pela exclusão de outras doenças e pela associação dos sintomas. É como na época da descoberta de Aids, quando ainda não havia teste", diz.

 

"Com o exame oftalmológico, podemos identificar as lesões nas crianças e saber se elas podem ter sido causadas por este vírus ou por outras razões." (Com G1)

 

 

 

Veja também:

  • Testes indicam que vacina contra zika previne a doença na gestação

    A vacina contra zika desenvolvida pelo Instituto Evandro Chagas (IEC) apresentou resultado positivo nos testes em camundongos e macacos.

     

    A aplicação de uma única dose da vacina preveniu a transmissão da doença nos animais e, durante a gestação, o contágio dos filhotes.

  • Médicos acham lagartixa viva dentro de ouvido de paciente

    Um homem que procurou um hospital na China sofrendo com uma severa dor de ouvido descobriu que tinha uma lagartiva vivendo lá dentro.

     

    Um vídeo gravado no hospital de Guangzhou mostra o momento que os médicos retiraram o réptil ainda vivo do ouvido do paciente.

  • Recém-nascidos devem fazer Teste do Pezinho até o 5º dia de vida

    Em 2016, mais de 2,3 milhões de recém-nascidos fizeram o Teste do Pezinho em todo o país. Ele é capaz de indicar a existência de doenças genéticas, endocrinológicas e metabólicas que não apresentam evidências clínicas no nascimento.

     

    No Dia Nacional do Teste do Pezinho, celebrado hoje dia 06, o Ministério da Saúde recomenda que o sangue do recém-nascido seja coletado preferencialmente entre o 3º e o 5º dia de vida.

Entre para postar comentários