Sexta, 07 Dezembro 2012 16:03

Exames descartam suspeita de vaca louca, e Paraná dá caso como superado

Governo brasileiro diz que Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) manterá a classificação sanitária do país e descarta possíveis impactos econômicos.

Exames realizados na Inglaterra descartaram a suspeita de um caso de doença da vaca louca em um animal do rebanho paranaense, morto em 2010, em Sertanópolis, no Norte do estado.

 

O animal foi diagnosticado com o agente patogênico que causa a doença da vaca louca, embora não tenha desenvolvido a doença nem morrido em razão dela. A informação foi divulgada pelo Ministério da Agricultura e pelo secretário de Agricultura e Abastecimento do Paraná, Norberto Ortigara, nesta sexta dia 07.

 

Segundo o governo, a OIE (Organização Mundial de Saúde Animal) notificou o governo brasileiro nesta manhã que irá manter a classificação sanitária do país como de risco insignificante para este tipo de doença. governo garantiu que, por isso, não haverá nenhum impacto comercial para o país, um dos principais fornecedores de carne bovina do mundo. 

 

Os exames que atestaram a presença do agente causador da doença no animal foram enviados ao ministério na noite de quinta-feira. É a primeira vez que se confirma a presença de um agente causador da doença de vaca louca no Brasil. O nome científico do mal é encefalite espongiforme bovina (EEB).

 

"Não houve uma mudança radical em relação à doença, mas um achado de um caso antigo. A classificação de insignificante é a mais branda que o país pode receber. Ser livre é impossível. A OIE avalia se se há medidas de mitigação por parte do governo que permitam evitar uma epidemia da doença, como ocorreu na Europa", afirmou Guilherme Henrique Figueiredo Marques, diretor do Departamento de Saúde Animal do MAPA.

 

Gerente técnico e econômico da Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar), Flávio Turra avalia que a consequência da notícia vai depender da reação dos países importadores. "O Paraná não importa ou exporta praticamente nada [no mercado de carne bovina]. Mas, se a carne do Mato Grosso não puder ser exportada e ficar no mercado interno, o país pode ter uma queda acentuada nos preços do produto", avaliou.

 

Com relação a uma possível influência no mercado, Ortigara reforçou o posicionamento de ausência da doença no Paraná. “O Estado não tem nenhum problema classificado como anormal no rebanho. É um fato lamentável, mas não expõe a risco o rebanho do estado. Isso não deve interferir nas exportações de carne bovina brasileira”, disse.

 

Este ano, as exportações deverão superar os US$ 5 bilhões. Atualmente, o Brasil tem um status de risco considerado "insignificante" na OIE para esse tipo de doença, ao lado de países como Argentina e Chile.

 

O caso mais recente de doença bovina de grandes proporções no Brasil foi a ocorrência de febre aftosa em Mato Grosso do Sul, em 2005, quando o país sofreu sérias restrições no mercado externo. Alguns países só voltaram a comprar a carne brasileira recentemente.

 

 

Causa da morte

 

Apesar de afastar a possibilidade de haver a doença no estado, Ortigara confirmou que o agente patogênico que causa a doença - o príon (proteína neurodegenerativa causadora da patologia) - foi encontrado em amostras coletadas de um animal de Sertanópolis, no Norte do Paraná, em 2010. A causa da morte do bovino, no entanto, teria sido a raiva, segundo ele, e não a presença do príon.

 

“A identificação desse tipo de lesões é uma coisa normal, que aconteceu recentemente na Europa e nos Estados Unidos”, minimizou o secretário. Ele falou com os jornalistas apenas depois de ligar para o diretor-presidente da Agência de Defesa Agropecuária (Adapar), Inácio Afonso Kroetz, que está em Brasília, no Ministério da Agricultura, acompanhando a divulgação de informações sobre o caso.

 

Já o diretor do Departamento de Saúde Animal do ministério, Guilherme Marques, apontou outras possíveis causas para a morte do bovino. "Nós asseguramos que a vaca não morreu dessa doença [da vada louca]. Provavelmente foi pela idade avançada em que ela se encontrava [13 anos]”, disse. “Tudo indica que essa proteína encontrada pelos exames foi causada por uma mutação aleatória, a exemplo do que ocorreu em diversos outros países [Estados Unidos, Canadá, Japão, Portugal e Inglaterra]”, acrescentou.

 

Segundo ele, todos os protocolos internacionais foram seguidos: investigações internas [exames clínicos e epidemiológicos em campo, exames em níveis estadual e federal, no próprio país]; e envio a laboratórios internacionais, nos casos em que pairem dúvidas. Como foram obtidos resultados divergentes (positivos e negativos) relativos à presença da proteína, o Brasil encaminhou para análise do laboratório considerado o melhor equipado para a identificação da doença, o Animal Health and Veterinary laboratories Agency, na Inglaterra.

 

Sobre a demora no anúncio do resultado das análises, que começaram a ser feitas há mais de dois anos, o secretário atribuiu a responsabilidade ao governo federal. “Estamos acompanhando o caso desde dezembro de 2010, fizemos todos os exames necessários, a coleta de amostras como determina o protocolo, e encaminhamos para análise. Infelizmente, isso demorou muito na esfera do Ministério da Agricultura, por isso foi divulgado só agora.”

 

 

Nota oficial

 

Leia abaixo, na íntegra, a nota oficial divulgada pelo Ministério da Agricultura, às 8h52 desta sexta-feira, a respeito do caso.

 

"Em relação às matérias veiculadas em alguns veículos de comunicação, no dia de hoje, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento esclarece que:

 

 

Com relação à morte de uma fêmea bovina ocorrida no estado do Paraná, em 2010:

 

1) Trata-se de um caso antigo, de 2010, ocorrido no Paraná;

 

2) O que foi detectado é que o animal possuía o agente causador da EEB, porém, não manifestou a doença e nem morreu por esta causa;

 

3) O episódio não reflete risco algum à saúde pública ou à sanidade animal, considerando o que o animal não morreu em função da referida doença;

 

4) A OIE (Organização Mundial de Saúde Animal), em comunicação oficial mantém a classificação do Brasil como país de risco insignificante para EEB;

 

5) O Brasil não tem EEB."

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