Ana Paula Aquino, especialista em reprodução humana do Grupo Huntington, explica que as mulheres nascem com certo número de óvulos, chegando à puberdade com 300 mil óvulos disponíveis nos seus ovários, em média. “A cada ciclo menstrual algumas centenas de óvulos são recrutados, para que somente um atinja a maturação e posterior ovulação. Infelizmente, não há como regenerar a quantidade de óvulos ao longo da vida. Portanto, a fertilidade da mulher é proporcional à sua idade. Até os 30 anos, uma mulher saudável tem uma quantidade e qualidade ovular consideravelmente boa e costuma ter menos problemas para engravidar”, diz.
A partir dos 35 anos, destaca a especialista, a reserva de óvulos da mulher já começa a diminuir consideravelmente, com a queda natural da fertilidade, e isto se torna mais visível após os 40. “A qualidade ovular também cai e isto se reflete em óvulos propensos a erros na sua divisão celular, produzindo mais embriões com alterações genéticas, que são impeditivos de gerar uma gravidez saudável, aumentando, assim, a taxa de abortamento”, explica.
Porém, o que nem todo sabe é que, até mesmo durante os anos mais férteis, algumas escolhas de estilo de vida e fatores externos podem afetar as chances de uma mulher engravidar. Abaixo você conhece fatores – alguns até inusitados – que podem afetar negativamente a fertilidade da mulher.
1. Obesidade
Ana Paula explica que as mulheres obesas possuem um metabolismo dos hormônios esteroides sexuais alterados. “Como, por exemplo, o aumento da produção de estrogênio, produzido tanto pelo ovário quanto pelo tecido adiposo. Isso pode provocar alterações ovulatórias, como irregularidade menstrual, ausência de menstruação (amenorreia), alteração na receptividade endometrial – que dificulta a implantação do embrião – ou aumentando a chance de abortos”, diz.
As principais causas de infertilidade nas pacientes obesas, de acordo com a especialista, são: redução da frequência de ovulações, alterações nos esteroides sexuais, pior qualidade oocitária e dos embriões formados.
Como evitar?
Ana Paula explica que o ideal, a fim de se evitar esses transtornos, é manter um IMC (índice de massa corpórea) entre 20 e 25 kg/m2, considerado normal. “Podendo ser aceitável até 30 kg/m2, mesmo já considerado sobrepeso. Uma alimentação adequada e prática de atividade física regularmente podem evitar esse fator”, destaca.
2. Magreza excessiva
Tanto a obesidade quanto a magreza excessiva, com IMC abaixo de 17 kg/m2, prejudicam a fertilidade feminina. “A falta de peso interfere na produção hormonal, diminuindo a produção de estrogênio no organismo, e podendo levar a perturbações no ciclo menstrual e ovulatório, causando uma dificuldade na concepção”, explica Ana Paula.
Como evitar?
De acordo com a especialista, para evitar esse tipo de problema, a mulher deve ter uma dieta balanceada e saudável, sem exageros na busca por um corpo perfeito.
3. Distúrbios da tireoide
Marcello Valle, especialista em Reprodução Humana, e diretor da clínica Origen (RJ), explica que o hipotireoidismo (quando a quantidade de hormônios produzidos pela tireoide está abaixo do normal) é muito frequente nas mulheres. “E, quando não controlado, pode diminuir a fertilidade ao interferir no chamado eixo hormonal hipófise-ovariano”, diz.
Como evitar?
O especialista destaca que, ao procurar precocemente um médico, a doença pode ser facilmente diagnosticada através de exames de sangue e ultrassonografia da tireoide, e o tratamento, logo iniciado.
4. Cafeína em excesso
Você adora um cafezinho?! Tomá-lo com moderação não oferece problema nenhum, muito pelo contrário, pode até oferecer benefícios à saúde. Mas, em excesso, não é recomendado, devido à alta quantidade de cafeína.
Valle destaca que, apesar da relação entre cafeína e fertilidade ainda não ser clara, recomenda-se o consumo com moderação. “Acredita-se que seja razoável o equivalente ao consumo máximo de duas xícaras de café ao dia”, diz.
Como evitar?
É só não exagerar na quantidade de café e outras bebidas que contêm cafeína (chá verde, chá preto, refrigerante à base de cola etc.). Tomar duas xícaras de café ao dia, por exemplo, não oferecerá riscos.
5. Genética
Ana Paula explica que se a mulher possui uma alteração genética no seu conjunto cromossómico (cariótipo), esse pode ser um fator de infertilidade. “Alterações genéticas podem causar, principalmente, abortos de repetição, considerados um problema após a ocorrência do terceiro consecutivo”, diz.
Como evitar?
Nesses casos, orienta a especialista, o recomendado é buscar um tratamento de reprodução assistida, “além de um diagnóstico genético pré-implantacional, a fim de se investigar o embrião. Dessa forma, permite-se que somente sejam transferidos embriões geneticamente normais”, destaca.
6. Exposição a produtos químicos domésticos
Ana Paula explica que alguns componentes químicos presentes em uma série de produtos domésticos, como produtos de limpeza, tintas, alimentos com corantes, solventes, esmaltes para unhas, cosméticos e tinturas podem ser muito tóxicos se manuseados em excesso e podem afetar negativamente a fertilidade feminina.
“Alguns desses componentes são formaldeído, éter, percloroetileno e tolueno, entre outros. Os efeitos nocivos encontrados são: abortos espontâneos, malformações fetais, menstruação irregular, além de uma diminuição na fertilidade como um todo”, destaca a especialista.
Como evitar?
Na prática, não é possível apontar uma solução definitiva para evitar a exposição a tais componentes. Mas buscar uma alimentação mais saudável, optando sempre que possível por alimentos naturais, já é um caminho (que diminuirá, assim, o consumo de alimentos com corantes pelo menos).
É interessante tentar evitar, dentro do possível, o contato com esses componentes. Claro que esta tarefa, na maioria das vezes, é complicada e de difícil incorporação à rotina, mas, estar ciente desses problemas, é útil e é um fato que poderá ser conversado e debatido com um profissional da sua confiança.
7. Profissões
Pouca gente sabe, mas algumas profissões, indiretamente, também podem interferir na fertilidade, conforme explica Valle. “Principalmente aquelas com exposição excessiva a poluentes ambientais, contato com produtos químicos voláteis e aquelas submetidas a altas temperaturas”, diz.
Como evitar?
Mais uma vez não é possível apontar uma solução definitiva para evitar o problema. O melhor caminho é conversar a respeito do assunto com um especialista de sua confiança que poderá orientá-la da melhor maneira caso sua profissão possa estar interferindo indiretamente na sua fertilidade.
Ainda é necessário avanço nas pesquisas acerca dos efeitos sobre a fertilidade (feminina e masculina) devido à exposição. Em consequência, esses avanços permitirão o desenvolvimento de ações preventivas.
8. Doenças ginecológicas
Valle explica que a síndrome dos ovários micropolicísticos, a endometriose e os miomas uterinos são doenças ginecológicas muito comuns que levam diversos casais ao consultório de infertilidade conjugal.
Como evitar?
Infelizmente, destaca o especialista, não há como preveni-las. “Mas o diagnóstico precoce pode amenizar os sintomas, impedir a piora progressiva da doença e proporcionar ao casal um caminho mais objetivo até a gravidez”, diz.
Neste contexto, reforça-se a necessidade de fazer visitas regulares ao médico ginecologista, estando sempre atenta à saúde de uma forma geral (independentemente do desejo de engravidar).
9. Tabagismo
Ana Paula destaca que o tabagismo pode interferir negativamente na fertilidade da mulher, e em muitos fatores. “O tabagismo causa uma maior taxa de infertilidade, diminuição da fecundidade e aumento no tempo para concepção. Todos esses fatores provocam danos no sistema reprodutivo da mulher”, diz.
Além disso, acrescenta a especialista, os componentes tóxicos presentes no cigarro podem provocar falência ovariana precoce, “acelerando a chegada da menopausa em um a quatro anos; menor número de folículos ovarianos; dificuldade no transporte do embrião das tubas até a cavidade uterina, pois afeta a mobilidade ciliar destas, o que pode levar a um maior número de gestações ectópicas tubáreas; alterações cromossômicas e do DNA, interferindo na gametogênese; e, finalmente, maior número de perdas gestacionais”.
Valle destaca ainda que o tabagismo é uma preocupação em diversos países e pode afetar a fertilidade tanto feminina como masculina.
Como evitar?
O tabagismo é um vício grave, que pode oferecer diversos problemas à saúde (e não só em relação à fertilidade). Dessa forma, não há outro caminho a não ser evitá-lo totalmente.
10. Doenças sexualmente transmissíveis
Entre outros problemas, as doenças sexualmente transmissíveis podem afetar negativamente a fertilidade da mulher.
“Elas interferem na resposta imunológica e inflamatória, com impactos negativos no funcionamento dos órgãos pélvicos, levando à diminuição da fertilidade. Neste universo, a Chlamydia continua sendo um dos micro-organismos mais frequentes”, destaca Marcello Valle.
Como evitar?
É fundamental evitar as doenças sexualmente transmissíveis e isso pode ser feito principalmente através do sexo seguro, feito com camisinha, e, também, de consultas regulares com o médico ginecologista, realizando todos os exames pedidos por ele.
11. Estresse
Valle explica que, na última década, diversos trabalhos científicos vêm relacionando o estresse com a diminuição da fertilidade do casal, perdas gestacionais e piora nos resultados perinatais.
Como evitar?
Por mais que pareça muito difícil, é preciso se esforçar para controlar o estresse que, em excesso, pode oferecer diversos problemas à saúde. Boas dicas para isso são: se exercitar, ter uma alimentação balanceada (de preferência contando com a orientação de um nutricionista), reservar um tempo para fazer coisas que gosta, dormir bem, ter um período do dia exclusivamente para relaxar etc. Em alguns casos é muito importante ainda procurar ajuda de um profissional da área.
12. Exercício físico em excesso
A atividade física de forte intensidade pode reduzir a fertilidade por gerar um bloqueio no eixo hipofisário-ovariano, conforme explica Ana Paula. “A endorfina liberada com a prática de exercícios vigorosos inibe a hipófise, comprometendo a ovulação. Isso causa uma alteração ovulatória e, consequentemente, anovulação e ausência de menstruação”, diz.
Como evitar?
A orientação é apenas “não exagerar”. De acordo com Ana Paula, exercícios leves a moderados são úteis e ajudam a aumentar a chance de concepção do casal, pois levam a um equilíbrio metabólico e hormonal. “Quando é feito com moderação e acompanhamento, é positivo. A manutenção de um peso adequado, com IMC ideal entre 20 a 25 kg/m2, melhora a disponibilidade dos hormônios relacionados ao ciclo menstrual e ovulação”, destaca.
Uso prolongado de anticoncepcional x fertilidade
Uma dúvida comum é se o uso de anticoncepcional por um longo período pode afetar negativamente a fertilidade da mulher (mesmo que depois ela pare o uso).
Valle explica, porém, que o uso prolongado de pílulas anticoncepcionais não afeta a fertilidade porque não interfere na diminuição do número de óvulos ao longo da vida. “Os mecanismos que levam a esta redução ocorrem de forma semelhante com ou sem o uso de pílulas”, destaca.
Amamentação X Gravidez
Outra dúvida relativamente comum é: a mulher que ainda está amamentando pode ter dificuldade para engravidar de novo?
Ana Paula explica que, na verdade, a amamentação exclusiva (leite materno como único alimento do bebê) nos primeiros seis meses de pós-parto pode ser usada como um método contraceptivo, a fim de se evitar uma gestação neste período.
“A sucção frequente por parte do bebê envia impulsos nervosos ao hipotálamo materno, que responde alterando a produção dos hormônios hipofisários, o que leva à anovulação e amenorreia. Desse modo, a mulher não ovularia, evitando uma gravidez”, destaca a especialista.
Fatores que afetam a fertilidade do homem
A fertilidade do homem pode ser afetada de diversas maneiras, assim como a fertilidade feminina. Ana Paula Aquino destaca que os principais fatores responsáveis são:
Tabagismo: altera a concentração e motilidade dos espermatozoides.
Obesidade: aumenta a temperatura escrotal; aumenta o índice de fragmentação do DNA espermático (falha no processo de fertilização); diminui a concentração espermática e piora o padrão de motilidade do sêmen; aumenta o risco de disfunção erétil devido aos baixos níveis de testosterona.
Consumo de álcool: diminui a testosterona circulante; diminui o número total de células no ejaculado; altera a motilidade e morfologia espermática.
Produtos tóxicos: alterações seminais (relativas ao sêmen), principalmente de concentração.
Exercícios físicos em excesso: diminui o nível de testosterona e a concentração de espermatozoides.
Esteroides anabolizantes: inibem a produção de gonadotrofinas, prejudicando a produção espermática.
Caxumba: pode levar a atrofia testicular e interromper a produção de espermatozoides.
Diabetes: maior fragmentação do DNA espermático.
Varicocele: causa mais comum de infertilidade masculina; causa aumento de temperatura local, prejudicando a produção de espermatozoides.
Medicamentos: como finasterida, espironolactona, bloqueador do canal de cálcio, alupurinol, ranitidina, cimetidina, cetoconazol, nitrofurantoína, eritromicina, gentamicina, antipsicóticos, entre outros; causam alterações seminais.
Marcello Valle ressalta que dentre os fatores mais comuns da infertilidade masculina está a varicocele (dilatação das veias na bolsa escrotal). “As causas externas como exposição a poluentes, trabalhar em lugares com alta temperatura, tabagismo e uso de drogas têm grande importância”, diz.
“A orquite – inflamação dos testículos – como complicação da caxumba deve ter atenção. São menos comuns condições congênitas como malformações dos órgãos genitais internos e externos, além de síndromes genéticas”, finaliza o especialista.
O casal que deseja ter filhos deve estar bastante atento a esses fatores e não deve hesitar em procurar ajuda de um especialista, se for o caso.
Então, se sua ideia é engravidar, evite os fatores que podem afetar negativamente sua fertilidade. Isso é possível, de forma geral, cuidando da sua saúde da melhor maneira possível e seguindo bons hábitos de vida.
Por Tais Romanelli (Dicas de Mulher)